UFU avança no diagnóstico de câncer de próstata pelo sangue e busca voluntários entre pacientes do HC

Projeto receberá financiamento de R$ 906 mil do CNPq

A plataforma de diagnóstico de câncer de próstata por meio de biópsia líquida do sangue, que vem sendo desenvolvida, nos últimos anos, por cientistas do Laboratório de Nanobiotecnologia Prof. Dr. Luiz Ricardo Goulart Filho, da Universidade Federal de Uberlândia (UFU), passou a ter mais um biomarcador que pode auxiliar nos tratamentos, o AR-V7.

Embora os dois sejam exames de sangue, a biópsia líquida é diferente do exame de PSA (Prostate Specific Antigen, que significa Antígeno Prostático Específico). De acordo com o Ministério da Saúde, o PSA mede a quantidade de uma proteína produzida pela próstata (glândula presente em homens cisgêneros, mulheres trans e algumas pessoas não binárias, localizada na frente do reto, abaixo da bexiga, envolvendo a parte superior da uretra), pois níveis altos dessa proteína podem significar câncer ou doenças benignas da próstata. É um dos exames de triagem, assim como o toque retal. A confirmação do câncer de próstata é feita com biópsia de pequenos pedaços da próstata analisados em laboratório.

A biópsia líquida estuda células que foram liberadas do tumor e estão circulando no sangue. “A nossa proposta é ter um perfil de análise dos marcadores dessas células que podem ajudar a complementar no momento do diagnóstico, do prognóstico e, agora, com esse AR-V7, ajudar na decisão terapêutica”, explica a professora Vivian Alonso Goulart, do Instituto de Biotecnologia, coordenadora do estudo.

O grupo já trabalhava com três biomarcadores: aptâmero A4, EPCAM e CD45. O quarto é o AR-V7, uma variante do receptor do hormônio andrógeno. “Se o marcador é positivo ou negativo, ele pode ajudar o médico nessa decisão terapêutica, porque quando o AR-V7 é positivo, ele não responde bem a determinados medicamentos e responde melhor a outros”, completa Goulart.

Apresentações de Vivian Goulart, no 30th Porto Cancer Meeting, em Porto (Portugal), e de Nathalia Oliveira Alqualo, no I Congresso Brasileiro de Oncologia Translacional, em Belo Horizonte (MG)
Apresentações de Vivian Goulart, no 30th Porto Cancer Meeting, em Porto (Portugal), e de Nathalia Oliveira Alqualo, no I Congresso Brasileiro de Oncologia Translacional, em Belo Horizonte (MG) (Fotos: arquivos pessoais)

 

Agora, o desafio dos pesquisadores é encontrar voluntários para participar da fase de validação do estudo: é necessário que sejam pacientes já em atendimento nos setores de Urologia e/ou Oncologia do Hospital de Clínicas (HC/UFU). Até o momento, a equipe analisou dados de cerca de 100 pacientes, mas precisam de mais de mil amostras, porque há vários grupos de pessoas, estadiamentos do câncer e outras características para serem consideradas nas análises. Essa fase de validação é feita pelo Registro Brasileiro de Ensaios Clínicos (ReBEC), vinculado ao Ministério da Saúde, à Organização Panamericana de Saúde (Opas), à Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e à Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).

Em maio deste ano, em Porto (Portugal), Goulart apresentou o estudo, de autoria da mestranda Nathalia Oliveira Alqualo, no 30th Porto Cancer Meeting, com o título Liquid biopsy analysis of AR-V7 and aptamer A4 in prostate circulating tumor cells: A preliminary study. Outros resultados, que já divulgamos na reportagem Proteínas de células tumorais podem ajudar a detectar câncer de próstata por meio de exame de sangue no portal Comunica UFU, foram publicados na forma de artigo, em agosto, no periódico Biophysical Chemistry. O pedido de patente está registrado no Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI), mas o resultado pode demorar até cerca de dez anos para ser divulgado.

O trabalho dos cientistas da UFU foi aprovado na Chamada CNPq/Decit/SECTICS/MS Nº 29/2024, do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), que apoia projetos de pesquisa, desenvolvimento e inovação (PD&I) com prioridade na saúde da população brasileira com foco em doenças e agravos não transmissíveis (DANT). Nos próximos três anos, o valor de R$ 906 mil será utilizado para pagar bolsas de pós-graduação e pós-doutorado, comprar reagentes, fazer a manutenção de equipamentos, entre outras despesas. A pesquisa também tem apoio da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), que já divulgou o estudo, e do Programa de Pós-graduação em Genética e Bioquímica (PPGGB/UFU).

Fonte: ASCOM/UFU