Marcelo Oliveira Rodrigues é químico, com graduação e mestrado pela Universidade Federal de Sergipe (UFS), e doutor em Química Inorgânica, pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). Com bolsa da CAPES, cursou parte do seu pós-doutorado na Universidade de Nottingham, na Inglaterra e desde 2011 é professor no curso de graduação de Química, da Universidade de Brasília (UnB). Em 2012 iniciou diversos projetos de pesquisa envolvendo nanoparticulas de carbono, destacando o eixo da inovação como um dos pilares de sua atuação.
Fale sobre sua pesquisa.
Minha pesquisa é direcionada ao estudo de nanoparticulas de carbono, com foco no setor de agricultura, principalmente para a área de bioestimulantes, carreadores de nutrientes e carreadores de moléculas para tratar patologias de plantas, como fungos e bactérias. Os meus projetos possuem um forte apelo para a inovação usando nanotecnologias a favor da agricultura. Tal tecnologia teve como inspiração a natureza e a vontade de potencializar propriedades naturais e genéticas de plantas. O resultado foi a criação da arbolina, biofertilizante nanotecnológico atóxico, não bioacumulável e luminescente, capaz de enriquecer alimentos com micro e macro nutrientes e aumentar as produções de diversas culturas.
Como surgiu interesse em pesquisar sobre o assunto?
Eu já trabalhava com nanotecnologia aplicada à química e fármacos. Isso me proporcionou um know-how de conhecimento em direcionamento de partículas e interação com o meio biológico. Em 2015 tive uma reunião com uma grande multinacional alemã para discutir um trabalho com plásticos. Eles queriam nanoparticula para fazer a reflexão de infravermelho para diminuir a temperatura da casa de vegetação. Apresentei o trabalho que eu já realizava, nanotecnologia e animais. O grupo ficou bastante interessado. Foi quando a Embrapa me chamou para conversar e me sugeriu uma pesquisa na área de plantas. Assim iniciamos o processo: produzir nanoparticulas para aumentar a produtividade na agricultura. Então entre 2015 e 2017, nós estávamos trabalhando no desenvolvimento dos protótipos. Foram cerca de 30 tentativas até chegarmos a um produto que apresentou alta produtividade nos testes de casa de vegetação e nos testes de laboratório.
Quais foram os resultados?
Hoje os resultados da nossa pesquisa, em dados, são robustos para o aumento de produtividade. Soja, a depender da condição, nós conseguimos aumentar em 20% com quatro aplicações. Estamos falando de dez sacos a mais! O tomate, tivemos um aumento de 26% na produtividade, o que corresponde a cerca de 1.800 caixas a mais para o produtor. São números que você pode aumentar a produtividade, a oferta de alimentos, com a mesma área de cultivo.
Quais as vantagens?
Além de aumentar a produtividade, outra vantagem seria a redução da quantidade de pesticidas aplicados. A associação do nosso produto aos pesticidas comumente usados nas lavouras tem como resultado a diminuição das doses aplicadas e uma melhora de 20% na performance dos ativos. Hoje nós temos um trabalho com redução de até cem vezes a dose do pesticida, em tratamento de sementes, usando o nosso produto junto. Isso impacta na saúde da população com menos resíduos nos alimentos. Também pode influenciar na queda de barreiras comerciais internacionais, como as sanitárias europeias para os produtos brasileiros. Estas são muito altas devido à grande quantidade de pesticida presente nos alimentos que são exportados. Então, com essa tecnologia a gente consegue essa redução. Tem importância fundamental para o País.
Quais as contribuições que a sua pesquisa traz para a área?
Quando você fala em nanotecnologia aplicada à agricultura é um grande tabu: por questões ambientais, de saúde e econômicas. Nós temos uma nanopartícula que tem viabilidade econômica, é biodegradável, é biocompatível e tem escalabilidade.
Qual a aplicação da pesquisa no Brasil?
Essa tecnologia pode ser aplicada em qualquer cultura comercial, desde flores, soja e milho ao algodão, entre outros. Esse aumento de produtividade gera emprego e renda para o País. Além disso pode ser usada na agricultura familiar: uma associação com o governo e com as políticas públicas, pois gera emprego e renda.
Quais reconhecimentos a sua pesquisa recebeu?
A descoberta da arbolina motivou a criação da Krilltech, empresa de soluções tecnológicas inovadoras e sustentáveis, voltada para o agronegócio (AgTech). Ela surgiu como uma startup na Universidade de Brasília, a partir de uma parceria com a Embrapa. A Krilltech foi considerada pela Ordem dos Economistas do Brasil (OEB) como potencial ‘unicórnio brasileiro’, termo criado pela investidora Aileen Lee, do fundo americano Cowboy Ventures, para descrever startups que conseguem atingir a marca de R$1 bilhão em avaliação de mercado.
Qual a importância da CAPES para o seu projeto?
A CAPES teve papel fundamental na pesquisa. Desde 2012, quando iniciamos os estudos com as nanoparticulas de carbono, tive vários bolsistas da CAPES. Sem este apoio, hoje não poderíamos dizer que temos um ‘unicórnio nacional’: uma pesquisa que saiu da universidade até chegar ao produtor, com alto impacto econômico.
Quais são os próximos passos?
Hoje nós temos A Krilltech, primeira empresa do grupo, na área de biofertilizantes, bioestimulantes e estamos desenvolvendo uma série de outros produtos, como uma outra nanotecnologia que é cinco vezes mais potente que a arbolina. Posso dizer que somos percursores nacionais em nanotecnologia aplicada ao agronegócio.
(Brasília – Redação CCS/CAPES)
Foto: Fernanda Mourão
Fonte: CAPES