Por: Pe. Josafá Carlos de Siqueira SJ*
Vivemos numa época de grandes desafios na sociedade e na universidade, onde os processos de transformações são rápidos e preocupantes, atingindo esferas políticas, sociais, culturais, ambientais e éticas, exigindo, portanto, respostas e reflexões inteligentes e verdadeiras. Muitas destas mudanças atingem o mundo acadêmico mexendo às vezes com aquilo que é parte integrante e fundamental das universidades, como os princípios que regem os marcos referenciais, como a riqueza de seu pluralismo de ideias e de concepções, a sua liberdade de aprender, pesquisar, ensinar e divulgar o pensamento, e a sua busca da verdade através dos diferentes saberes científicos. (Marco Referencial da PUC-Rio, n.2).
Com o fascínio produzido pelo progresso da racionalidade tecnológica, que se de um lado trouxe enormes avanços para a sociedade e o mundo acadêmico, gerando e alimentando a inovação da mediação técnica, por outro, começa a apresentar preocupações com o uso da mesma para divulgar posições por vezes radicais que desafiam a razão e a veracidade dos fatos. Tratam-se de extremismos que aumentam as divisões, e não contribuem para o diálogo e o consenso do pluralismo de ideias e opiniões do mundo contemporâneo. O educador, além de suscitar nos educandos as suas potencialidades, e ajudar nas hermenêuticas daquilo que se encontra disponível nos meios de comunicação, sobretudo pelas vias eletrônicas, tem agora que administrar a sua criatividade metodológica e o modo de expor o seu saber científico acumulado, uma vez que algumas redes sociais exercem por vezes mecanismo de controle de seus conteúdos e comportamentos em sala de aula, correndo o perigo da exposição públicado nome do educador, até mesmo em razão de um pequeno comentário ou de uma brincadeira humorada que exageradamente pode lhe imputar danos morais. Se a virtude da prudência é necessária, também é prioritário saber conviver com as diferenças de forma respeitosa e dialogal.
Além desses cuidados nos próprios espaços de liberdade no campus universitário e em salas de aula, a Universidade hoje tem que lutar contra a irracionalidade de argumentos e a falta de verdade de pessoas que vivem fora do meio acadêmico,postando e divulgando imagens e mensagens contrárias ao espirito de liberdade, pluralismo, tolerância e autonomia da Instituição de ensino superior.
A Universidade, como casa do saber, não pode permitir que a razão se curve diante da irracionalidade de argumentos que ganham espaços nas redes de comunicação, e nem tão pouco que a inverdade dos fatos tenha primazia diante daquilo que nos é mais caro, a saber, a busca da verdade. É bom recordar aquilo que diz a Ex Corde Ecclesiae n.12: “A universidade goza de autonomia institucional, necessária para cumprir as suas funções com eficácia, e garantir aos seus membros a liberdade acadêmica na salvaguarda dos direitos do indivíduo e da comunidade no âmbito das exigências da verdade e do bem comum”.
A multiplicação de fatos que muitas vezes expõem a vida das pessoas e o nome da Universidade é um desafio sobre o qual hoje devemos refletir e reagir nos meios acadêmicos, não permitindo que a menor idade da razão nos tire aquilo que constitui o cerne da racionalidade axiológica que vivemos e professamos na rotina da criatividade, livre e plural da vida universitária, onde não há espaço para os dogmatismos ideológicos, os extremismos exagerados e o descompromisso com a verdade.
*Pe. Josafá Carlos de Siqueira SJ é membro conselheiro da Diretoria do CRUB e reitor da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio)
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