Por Ronaldo Mota*
Nos processos educacionais, educandos e educadores investem esforços e talentos visando à aprendizagem, que seria resultante do sucesso das estratégias e metodologias utilizadas. Como processo complexo, qualquer tentativa de simplificação está sujeita a erros graves. Assim, procurar destacar os elementos e as abordagens mais relevantes deveria ser a tarefa de qualquer educador interessado em melhorar o desempenho dos estudantes em relação a cada evento educacional específico.
Elementos culturais gerais da sociedade sempre estarão presentes como ingredientes fundamentais. O ambiente doméstico e os hábitos e costumes praticados no dia a dia interferem nas práticas e nos resultados educacionais, portanto, seria recomendável tê-los considerados quando da seleção das abordagens e das pedagogias adotadas. Uma nação, uma região ou um grupo social específico têm marcas registradas decorrentes de suas histórias anteriores que estabelecem com o processo educacional uma relação de desejáveis e inevitáveis interferências multilaterais.
Nossa carga cultural traz marcas bem descritas em obras consolidadas, entre elas destaco “Casa Grande & Senzala”, de Gilberto Freire. Neste e em outros estudos, são enfatizadas, de um lado, uma elite acostumada às benesses e aos privilégios, que justificam e estimulam o paternalismo e a acomodação, e, de outro, os demais submetidos à exclusão e à opressão, que desfavorecem a emancipação e as iniciativas empreendedoras. A tradição histórica que se reflete nas relações, seja nas ruas ou no trabalho, infelizmente, também repercute nas salas de aula, via pedagogias que prioritariamente estimulam a aprendizagem marcadamente dependente.
Portanto, no processo educacional, adicionalmente aos conteúdos a serem abordados, em complemento às técnicas e procedimentos que um futuro profissional ou cidadão devem dominar, há outros elementos, tão ou mais relevantes, que demandam estar presentes. Entre eles, a aprendizagem independente é essencial e não exclui o professor; ao contrário, o inclui via a adoção de metodologias que estimulem processos emancipatórios na aprendizagem. Especialmente no caso brasileiro, não basta ter aprendido o conteúdo, é imprescindível que no processo a ênfase na autonomia de aprendizagem ao longo da vida tenha sido enaltecida e priorizada, assim como é importante que níveis superiores de emancipação dos educandos tenham sido atingidos.
A notícia positiva é que o mundo das tecnologias digitais favorece a missão de estimular processos emancipatórios e mantém grande coerência com as metodologias ativas que se baseiam em aprendizagem independente, mediadas tanto pelo educador como pelos ambientes virtuais. Via as interfaces educacionais inteligentes e os recursos e ferramentas atualmente disponíveis, é plenamente possível traçar trajetórias educacionais personalizadas que levam em conta cada indivíduo, bem como fortalecer aspectos culturais e demais especificidades locais e regionais.
Temos a oportunidade inédita de conjugar escala e qualidade, contrariando as práticas anteriores, caracterizadas por qualidade para poucos ou má qualidade sempre que estendida aos demais. Contemporaneamente, ao contrário, podemos afirmar que só haverá qualidade se tivermos variadas referências para acesso, fruto de adotarmos tecnologias e metodologias que sejam aplicáveis para muitos. Hoje, seja na educação, na saúde ou em demais setores, inovar no Brasil é ousar propiciar qualidade para todos.
*Reitor da Universidade Estácio de Sá e coautor, em conjunto com David Scott, do livro “Educando para Inovação e Aprendizagem Independente”, Editora Elsevier
Comunicação CRUB
(61) 3349-9010