O Conselho Nacional de Educação (CNE) vai mudar as diretrizes curriculares das graduações de Engenharia do País, com o objetivo de tornar os cursos mais atrativos. A proposta é que a carreira – em que metade dos ingressantes abandona a faculdade antes de se formar – tenha maior número de atividades práticas, organização mais flexível, interdisciplinar e focada em inovação.
A avaliação é de que a organização tradicional, com os dois primeiros anos dos cursos focados só no ciclo básico (com disciplinas comuns a todas as Engenharias, como Cálculo e Física), desmotiva o aluno. A área tem evasão duas vezes maior do que a média dos outros cursos (22%). Graduações mais tradicionais também têm taxas de desistência bem menores, como Direito (17%), Medicina (8%) e as Licenciaturas (19%).
A última revisão nas diretrizes, que servem como parâmetro para os currículos dos cursos, foi feita há 16 anos. A resolução atual prevê, por exemplo, que pelo menos 30% da carga horária das Engenharias seja voltada para o núcleo de conteúdos básicos e fixa 15% de carga horária mínima para os conteúdos profissionalizantes.
A nova proposta não estabelece carga horária mínima para cada conteúdo a ser trabalhado, mas orienta que devem ser implementadas “desde o início do curso” atividades que integrem a parte teórica à prática, projetos multidisciplinares, com ênfase no trabalho individual e em grupo e o uso de metodologias de aprendizagem ativa.
Em discussão há mais de um ano, a previsão é de que o novo marco regulatório seja aprovado em julho. As novas diretrizes serão válidas para todos os cursos de Engenharia – são mais de 4 mil, sendo 70,5% na rede privada. Após aprovação pelo CNE, elas serão encaminhadas para homologação do Ministério da Educação. As instituições de ensino terão, depois desse processo, um ano para adequar seus currículos.
“A atuação na área de Engenharia não admite mais uma formação apenas técnica. A sociedade e os problemas são interdisciplinares e precisamos formar pessoas com habilidades para responder a essas questões”, diz Luiz Roberto Curi, que preside a comissão do CNE que estuda as mudanças. A ideia é de que os cursos se tornem mais “dinâmicos” e que o aluno tenha acesso a conhecimentos de outras áreas futuramente úteis no mercado, como design, mercado financeiro e saúde.
A proposta foi elaborada em conjunto com a Confederação Nacional da Indústria (CNI) e a Associação Brasileira de Educação em Engenharia (Abenge).
“Os cursos estão defasados e não respondem nem aos anseios dos jovens nem à demanda do mercado. Temos uma formação muito técnica, fragmentada. O que precisamos na Engenharia hoje é um profissional com habilidades, que saiba sempre aprender, refletir e encontrar soluções para os problemas”, diz Vanderli Oliveira, presidente da Abenge.
Carga horária
Se aprovada, a proposta também abrirá a possibilidade para que os cursos tenham menor duração. Atualmente, as diretrizes estabelecem que todas as Engenharias tenham carga horária mínima de 3,6 mil horas, ou seja, cinco anos de graduação. A nova proposta coloca essa mesma carga como “referência”.
“Abre uma brecha para que os cursos, se bem elaborados e atendendo a todas as outras orientações, possam ter quatro anos de duração. Isso já ocorre em muitos países da Europa e nos Estados Unidos, nas instituições mais renomadas”, afirma Oliveira.
Após mudanças, Poli-USP vê alunos mais motivados
Cinco anos após mudar o currículo de suas graduações para que se tornassem mais flexíveis, a Comissão de Graduação da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (USP) – uma das mais tradicionais de Engenharia do País – avalia que a motivação dos alunos aumentou. A alteração permitiu que o estudante possa cursar matérias de outras áreas e até de fora da Engenharia.
A reforma também incluiu já no 1.º ano disciplinas introdutórias à área específica de formação. “Os alunos ficam mais próximos do que os trouxe à Engenharia”, conta Fabio Cozman, presidente da comissão.
Ele diz que a flexibilização e a possibilidade do aluno personalizar sua grade curricular também trazem desafios importantes. “Ele (o aluno) tem mais obrigações porque decide quais disciplinar vai fazer. O aluno é menos conduzido na mão pelo sistema, o que é importante para desenvolver habilidades que serão utilizadas na profissão.”
Rafael Lima, de 22 anos, está no 3.º ano de Engenharia Civil da Poli e diz que o contato com as disciplinas introdutórias o fizeram ter certeza da escolha. “Temos muitas visitas técnicas e isso me motiva a continuar estudando. Já visitei o Porto de Santos, obras do Metrô e de duplicação de rodovias.” A chance de fazer disciplinas em outras áreas, diz, ajuda a “descansar” do conteúdo exclusivo do seu curso. “Fiz uma disciplina de análise de textos e foi ótimo”.
As mudanças também priorizaram novas metodologias de aprendizagem, com o uso de recursos digitais.
Fonte: ESTADÃO – O Estado de S.Paulo | Foto: GABRIELA BILO / ESTADÃO
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