Ronaldo Mota*
Houve um tempo, próximo passado, em que nas formaturas os concluintes do ensino superior celebravam a despedida da vida de estudante. Mais do que isso, era razoável supor que lograssem algum sucesso nas empreitadas seguintes, sem que fosse imprescindível continuar estudando. Afinal, era esperado que, ao final de um curso de graduação, com duração da ordem de 4 a 6 anos, os principais conteúdos, os procedimentos básicos e as técnicas associadas tivessem sido plenamente adquiridos. Mesmo que fosse ingenuidade, o passado, por vezes, foi permissivo quanto à possibilidade dessa leitura.
Os tempos contemporâneos se caracterizam pela radicalidade e rapidez nas transformações. O mercado de trabalho já não é o mesmo, tampouco as características principais que são demandadas daqueles que pretendem aproveitar oportunidades de novos negócios são as mesmas. Adentramos, progressivamente, uma era em que a informação passa estar plenamente disponível, instantânea e gratuita. Caminhamos em direção a um cenário de educação permanente ao longo de toda a vida. Neste contexto, tão ou mais relevante do que o conteúdo aprendido em um curso de graduação é ampliar a percepção acerca de como se aprende. Ou seja, o saber aprender passa a ser a chave principal para enfrentar o desconhecido, que caracteriza o período que vivenciamos.
Se o mundo não é mais o mesmo, se as demandas da sociedade se alteraram e se os educandos e seus propósitos são diferentes, não há motivos para imaginarmos que os cursos, em seus formatos e em seus conteúdos, devam permanecer inalterados. Eles se adaptarão ao novo contexto, alguns mais rapidamente, outros com algum atraso, mas, nada permanecerá imune às inevitáveis e aceleradas transformações. Neste cenário, observaremos os cursos de graduação e de MBA (“Master of Business Administration”), gradativamente, sendo complementados ou migrando em direção àquilo que se adotou chamar de nanocursos, emissores de nanocertificados.
O prefixo “nano” começou a ser utilizado ao final da década de 1940 e é derivado da palavra que em grego significa “anão”. No contexto estritamente científico, representa uma unidade de medida associada à bilionésima parte de algo, tal como nanosegundo ou nanometro. Popularmente, passou a significar algo muito pequeno.
Educacionalmente, em torno de 2014, surgiram os primeiros nanocertificados (em inglês, “nanodegrees”), os quais buscavam atender, em curto espaço de tempo e sendo extremamente focados, as demandas por aprendizagem de habilidades específicas, particularmente aquelas voltadas para as necessidades do mercado de trabalho, na maioria dos casos na área de tecnologias da informação. Em geral, são projetos práticos que avaliam e certificam os educandos após um período de cerca de seis meses de estudo. Os nanocursos tendem a representar uma alternativa relativamente mais prática, ágil e de menor custo para quem quer alavancar sua carreira e comprovar capacitação para missões bem definidas. Para as empresas, significa a oportunidade de customizar as formações demandadas de seus profissionais de maneira mais objetiva, direta e eficiente. Os pioneiros nesses cursos eram ligados à empresa americana de cursos online, Udacity. Hoje, tais iniciativas estão bastante disseminadas, com diferentes origens, formatos e propósitos.
Vivenciaremos realidades inéditas, sendo a maior parte delas mediadas pela chegada das ferramentas da inteligência artificial, da onipresença da internet das coisas e dos inevitáveis robôs. As tarefas que permitem ser automatizadas, certamente, o serão. Várias profissões como nós as conhecemos atualmente terão, em geral, duas opções: desaparecer ou mudar radicalmente. Nada será de imediato, nem por isso quer dizer que será demorado ou prorrogável. Quanto antes nos adaptarmos, maior a possibilidade de sobrevivência e de sucesso, seja enquanto indivíduo, grupo ou organização. Os nanocursos estão longe de serem as causas das mudanças; são somente claros sintomas de processos que alterarão de forma substantiva os caminhos segundo os quais aprendemos e ensinamos. Afinal, estamos falando de um futuro que começou a acontecer ontem.
*Chanceler da Estácio
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