Ensino superior, essa foi a pauta da semana no Rio Grande do Sul, e a professora Lia Maria Herzer Quintana, presidente do CRUB e do Consórcio das Universidades Comunitárias Gaúchas – Comung, e Reitora do Centro Universitário da Região da Campanha – Urcamp, concedeu entrevista aos veículos de comunicação e comentou os cenários na educação e o diferencial que as Comunitárias oferecem junto às comunidades onde estão inseridas.
A Lei de Diretrizes e Bases da Educação – LDB, estabeleceu recentemente a diferença entre ensino privado e o comunitário. Com uma história que vem se consolidando há sessenta anos, as Instituições Comunitárias não têm fins lucrativos e prestam serviços educacionais. No entanto, como explica Lia Quintana, as 14 Instituições do Comung são mantidas pelo pagamento de mensalidades. “De fato, é um momento sem precedentes em razão da desidratação do sistema de ensino superior porque ele é um ecossistema formado por alunos de graduação e pós-graduação e a diminuição do número de estudantes afetou a sustentabilidade das instituições que dependem das mensalidades.”
Sobre os cursos de graduação e pós que vêm fechando, a presidente do Comung destaca o sentido dessa realidade: “O significado de perda é para toda a comunidade; não é só pontual para as Comunitárias. Significa perda de qualificação, capacitação, profissionais, inclusive acerca dos investimentos que as instituições fizeram para manter estes cursos”. Porém, as Comunitárias estão cientes do papel que ocupam para o desenvolvimento regional, portanto, quando precisam decidir pelo encerramento de um curso, é porque já analisaram todas as alternativas viáveis. “As instituições têm seu planejamento estratégico, seu orçamento e elas sabem o que acontece; muito provavelmente, para uma Comunitária que sabe do seu compromisso social e regional, ela, com certeza, não teve outra solução a não ser adotar essa medida”.
Essa crise, como apontam as pesquisas, também são resultado do crescimento constante de instituições privadas com fins lucrativos e seus cursos a distância. Para o estudante, é preciso analisar a entrega do resultado e se questionar sobre o comprometimento regional, tal qual reflete Lia Quintana. “O que fragiliza é o tipo de oferta. “Qual é o compromisso delas e o que elas entregam mediante o que elas estão precificando? As instituições querem entregar o quê? Capacitação?! Empregabilidade?! Mudança de perfil econômico?! O que ela vai entregar?”. Em comparativo com as tradicionais, como as Comunitárias que compõem o Comung, a presidente afirma: “Nós entregamos desenvolvimento regional, comprometimento com a sociedade. Não pode ser analisado apenas o valor da mensalidade, mas sim o que a Instituição contratada oferece pela prestação de serviços. Na questão dos cursos EaD, é investido um alto valor para a captação, mas na retenção e permanência, não”.
Para exemplificar a qualidade de ensino e comprometimento das Comunitárias, Lia, que é mestre em Engenharia Civil, traz um exemplo sobre o que vem depois da formatura. “No momento em que um profissional vai com o seu diploma e é apresentado às atividades inerentes à formação, o resultado da qualificação e do conhecimento é o fator determinante para definir quem será contratado. Precisamos analisar como estamos trabalhando com as competências pessoais, comportamentais e profissionais e isso está relacionado à empregabilidade, trabalhabilidade e sustentabilidade”.
Na luta por 0,5%
A campanha #MeioPorCentoJá é uma das principais pautas do Comung que está disseminada em todas as suas Instituições: UFN, Feevale, PUCRS, UCS, Unicruz, Unijuí, Universidade La Salle, Unisc, Unisinos, Univates, UCPEL, UPF, Urcamp e URI. Por ser o maior sistema de educação superior do Rio Grande do Sul, o Consórcio abrange quase todos os municípios do RS, concentrando mais de 153 mil estudantes, mais de 890 cursos de graduação e mais de 700 de pós-graduação. Juntas, contabilizam 1,3 milhão de atendimentos prestados à comunidade.
No entanto, estes 0,5% da receita líquida de impostos próprios para a educação superior pública e comunitária, que estão sendo mobilizados ao Governo do Estado, estão previstos no artigo 201 da Constituição Estadual, e ainda não estão na peça orçamentária do Estado. Em uma audiência pública ocorrida no mês de junho, em Novo Hamburgo, Lia Quintana evidenciou: “É importante que, neste momento, com base no estabelecido na Constituição Estadual e com a situação em que se encontra o estado e o país, nós entendermos que precisa, sim, investir na educação, promover mudança de paradigmas, e fazer o investimento necessário para evitar apagões na educação. Hoje, nós somos a geração com o maior nível educacional da história, porém, nós temos a maior diferença de distribuição de renda e essa diferença passa pela formação e educação. Por isso, para que tenhamos um país, não igual, mas igualitário, nós temos que investir na educação”.